Vamos falar sobre os agrotóxicos.

Pela legislação brasileira, os agrotóxicos são definidos como “produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento”.

Os agrotóxicos abrangem muitas moléculas químicas, com diferentes modos de ação e toxicidade podendo ser classificados de acordo com a formulação, emprego, modo de ação e estrutura química.

Quanto à toxicidade os agrotóxicos são divididos em 4 classes:
I- extremamente tóxico
II-altamente tóxico
III-mediamente tóxico
IV-pouco tóxico

A principal classificação é quanto ao seu emprego, sendo classificados em inseticidas, herbicidas, fungicidas, acaricidas, moluscicidas, raticidas, entre outros.

Os agrotóxicos orgânicos sintéticos foram introduzidos imediatamente após a segunda Guerra Mundial, sendo que vários deles já serviram de arma química nas guerras da Coréia e do Vietnã, como o Agente Laranja (mistura de 2,4-D e 2,4,5 T), desfolhante que dizimou milhares de soldados e civis.

A introdução de agrotóxicos organossintéticos no Brasil teve início em 1943, quando chegaram às primeiras amostras do inseticida DDT. A agricultura praticada em nosso país ainda tem uma forte dependência da utilização de agrotóxicos, garantindo patamares mais elevados de produtividade.

Atualmente, é difícil imaginar a possibilidade de suprir a demanda mundial de alimentos sem o uso de agrotóxicos, pois tais produtos melhoram a produtividade agrícola, garantindo elevada produção.. 

O grande  desafio é o uso adequado e com respeito às boas práticas agrícolas para diminuir ou evitar os danos ao meio ambiente.

 

Embora os agrotóxicos sejam utilizados na produção de alimentos, eles devem ser cuidadosamente usados e monitorados, porque podem ser tóxicos.

Uma parcela considerável do total aplicado para fins agrícolas atinge rios, lagos, aquíferos e oceanos por meio do transporte por correntes atmosféricas, eliminação incorreta de restos de formulações, limpeza de acessórios e recipientes empregados na aplicação desses produtos e pelo carreamento do material aplicado no solo pela ação erosiva da chuva. Devido aos mecanismos de transporte característicos dos meios aquáticos, alguns desses compostos têm sido detectados até na região Antártica.

A utilização de agrotóxicos é a segunda maior causa de contaminação dos rios no Brasil, perdendo apenas para o esgoto doméstico, segundo dados do IBGE.

Uma vez presente no ambiente aquático, estes compostos podem trazer prejuízos à biota ali presente. O impacto dos agrotóxicos depende do tipo de substância que foi utilizada e também da estabilidade do ambiente atingido. Nos casos mais graves, os agrotóxicos podem desencadear a morte de várias espécies de plantas aquáticas e animais, influenciando toda a comunidade aquática. Os agrotóxicos na água não atingem apenas espécies que vivem nesse ambiente. O homem, por exemplo, pode sofrer com a contaminação por agrotóxicos quando ingere um peixe que vive em uma área contaminada. Algumas espécies não morrem por causa do contato com os agrotóxicos, mas acabam acumulando-os em seu corpo. Esse acúmulo faz com que o produto seja passado através da cadeia alimentar, prejudicando, assim, outras espécies. Além disso, muitos desses mananciais são empregados para captação de água para consumo humano, e uma vez não eliminados no tratamento das estações de tratamento de água, estes podem estar na água consumida pela população.

Os seres humanos não estão isentos desta contaminação e alguns agrotóxicos podem acumular-se no organismo em tecidos lipídicos, fígado, rins, cérebro e coração. Como um agravante, muitos dos alimentos que fazem parte da dieta humana podem sofrer enriquecimento em relação à concentração inicial de agrotóxicos, como o leite, peixes de água doce ou salgada, crustáceos e vegetais.

Diversos estudos associam a exposição aos agrotóxicos comuns a inúmeras doenças, de asma a câncer, com destaque de maior risco para alguns grupos como agricultores, pessoas com imunidade baixa, idosos e crianças.

Fica claro então a importância do uso correto dos agrotóxicos, o respeito às boas práticas agrícolas e a necessidade de estudos de verificação de ocorrência, para garantia da saúde pública e do meio ambiente.

 

CALDAS, S. S.; ARIAS, J. L. O. ; ROMBALDI, C. ; MELLO, L. L. ; CERQUEIRA, M. B. ; MARTINS, A. F. ; PRIMEL, E. G.  (2018) Occurrence of Pesticides and PPCPs in Surface and Drinking Water in Southern Brazil: Data on 4-Year Monitoring. JOURNAL OF THE BRAZILIAN CHEMICAL SOCIETY, 30, 71-80

Chiarello, M., Graeff, R.N., Minetto, L., Cemin, G., Schneider, V., & Moura, S. (2017). Determinação de agrotóxicos na água e sedimentos por HPLC-HRMS e sua relação com o uso e ocupação do solo. Química Nova, 40, 158-165.